Nossas recomendações de 'dose-resposta' de atividade fí­sica para proteção contra doenças crônicas e mortalidade estão corretas?

  • Thaí­s Pereira Dutra Cabral Educação Fí­sica pela Universidade Federal do Espí­rito Santo (UFES), Espí­rito Santo, Brasil.
  • Luan Coelho Caliman Educação Fí­sica pela Universidade Federal do Espí­rito Santo (UFES), Espí­rito Santo, Brasil.
  • André Soares Leopoldo Centro de Educação Fí­sica da UFES, Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ciências do Movimento Corporal (NUPEM), Espí­rito Santo, Brasil.
  • Wellington Lunz Centro de Educação Física da UFES, Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ciências do Movimento Corporal (NUPEM), Espírito Santo, Brasil.
Palavras-chave: Dose-resposta, Exercício físico, Doenças crônicas não transmissíveis, Diretrizes

Resumo

É praticamente consensual que atividade fí­sica e exercí­cio fí­sico (AF/EF) protegem contra várias doenças crônicas não transmissí­veis e mortalidade. Entretanto, a relação 'dose-resposta' não está clara. Ainda está sob investigação quais (modalidades, tipos) e quanto (intensidade e volume) de AF/EF (dose) promovem melhor resposta. As principais recomendações apontam intervalo aproximado de 500 a 1750 MET.min/sem, ou 150 a 300 min/sem de esforço moderado, ou ainda 75 a 150 min/sem de esforço vigoroso. Nesse documento desafiamos o uso do MET ou Kcal como referencial para dose de AF/EF, e destacamos que o efeito protetor da AF/EF pode ser obtido com doses menores e maiores ao atualmente recomendado. Entretanto, para que isso seja possí­vel há uma necessidade aparente de se alcançar adequado "equilí­brio intensidade-volume" (EIV). Propomos que é possí­vel obter efeito protetor em diferentes cenários, como AF/EF de "altí­ssima intensidade vs. baixí­ssimo volume" ou "altí­ssimo volume vs. baixí­ssima intensidade", desde que o EIV seja adequado. Apontamos aqui importantes limitações das recomendações mais usuais de AF/EF ao tratar à dose-resposta, pois tais recomendações são paradoxalmente restritivas e ilimitadas. São restritivas porque consideram basicamente AF/EF no tempo de lazer, aeróbias e cí­clicas, restringindo volume a um dado intervalo de tempo e limitando intensidade a duas categorias de esforço (moderado e vigoroso). Além disso desconsideram doses < 500 MET.min/sem como efetivas na proteção. São ilimitadas porque sugerem que "quanto mais AF/EF, melhor", o que não parece legí­timo a luz das evidências cientí­ficas. Sustentamos nossa proposta a partir do conhecimento cientí­fico acumulado, trazemos elementos adicionais para alimentar reflexões sobre esse importante tópico.

Biografia do Autor

Thaí­s Pereira Dutra Cabral, Educação Fí­sica pela Universidade Federal do Espí­rito Santo (UFES), Espí­rito Santo, Brasil.

Bacharel em Educação Fí­sica com envolvimento em treinamento fí­sico para saúde e qualidade de vida.

Luan Coelho Caliman, Educação Fí­sica pela Universidade Federal do Espí­rito Santo (UFES), Espí­rito Santo, Brasil.

Bacharel em Educação Fí­sica com envolvimento em treinamento fí­sico para saúde e qualidade de vida.

André Soares Leopoldo, Centro de Educação Fí­sica da UFES, Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ciências do Movimento Corporal (NUPEM), Espí­rito Santo, Brasil.

Graduação em Educação Fí­sica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Especialização em Fisiologia do Exercí­cio e Treinamento Resistido pela Faculdade de Medicina - USP, Mestrado e Doutorado em Fisiopatologia em Clí­nica Médica - Área de Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp e Pós-Doutorado pelo Programa Nacional de Pós-Doutorado Capes/Reuni/ Sesu - Área Ciências da Saúde - Educação Fí­sica; Atualmente é Professor Adjunto IV do Centro de Educação Fí­sica e Desportos e Membro Permanente dos Programas de Pós-Graduação em Educação Fí­sica e Nutrição e Saúde da Universidade Federal do Espí­rito Santo. Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas - CCS/UFES. Bolsista Pesquisador Capixaba da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espí­rito Santo - FAPES;  Coordenador do Acordo de Cooperação Acadêmica Internacional entre a UFES/CEFD e a Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (Portugal). Participa de diversos estudos clí­nicos e experimentais, avaliando os efeitos de modelos de intervenção nutricional e exercí­cio fí­sico sobre adaptações bioquí­micas, metabólicas e cardiovasculares e, sinalização de cálcio intracelular. 

Wellington Lunz, Centro de Educação Física da UFES, Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ciências do Movimento Corporal (NUPEM), Espírito Santo, Brasil.

Bacharel e Licenciado em Educação Física (DES/UFV), Mestrado em Ciência da Nutrição (DNS/UFV), Doutorado em Ciências Fisiológicas (PPGCF/UFES); Professor do Departamento de Desportos (CEFD/UFES); Tem realizado pesquisa em efeitos fisiológicos e moleculares do exercício físico, efeitos do treinamento de força e hipertrofia muscular.

Referências

-Ainsworth, B. E.; Haskell, W. L.; Herrmann S. D.; Meckes, N.; Bassett, D. R. Jr.; Tudor-Locke, C. Compendium of Physical Activities: A Second Update of Codes and MET Values. Med Sci Sports Exerc. Vol. 43. Num. 8. p. 1575-81. 2011.

-Ãlvarez, C.; Ramírez-Campillo, R.; Ramírez-Vélez, R.; Izquierdo, M. Effects and prevalence of nonresponders after 12 weeks of high-intensity interval or resistance training in women with insulin resistance: a randomized trial. J Appl Physiol. Vol. 1. Num. 122. p. 985-996. 2017.

-Arem, H.; Moore, S.C.; Patel. A.; Hartge, P.; Berrington de Gonzalez, A.; Visvanathan, K. Leisure time physical activity and mortality: a detailed pooled analysis of the dose-response relationship. JAMA Intern Med. Vol. 175. Num. 6. p. 959-67. 2015.

-Blair, S.N.; Kohl, H.W.; Gordon, N.F.; Paffenbarger Jr. R.S. How much physical activity is good for health? Annu Rev Public Health. Vol. 13. p. 99-126.1992.

-Byrne, N.M.; Hills, A. P.; Hunter, G. R.; Weinsier, R.L.; Schutz, Y. Metabolic equivalent: one size does not fit all. J Appl Physiol (1985). Vol. 99. Num. 3. p. 1112-9. 2005.

-Campbell, W.W.; Kraus, W.E.; Powell, K.E.; Haskell, W.L.; Janz, K.F.; Jakicic, J.M. High-Intensity Interval Training for cardiometabolic disease prevention. Med Sci Sports Exerc. Vol. 51. Num. 6. p. 1220-6. 2019.

-Choi, K.W.; Chen, C-Y.; Stein, M.B.; Klimentidis, Y.C.; Wang, M.J.; Koenen, K.C. Major depressive disorder working group of the psychiatric genomics consortium. assessment of bidirectional relationships between physical activity and depression among adults: a 2-sample mendelian randomization study. JAMA Psychiatry. Vol. 1. Num. 76(4). p. E1-E10. 2019.

-Cunha, F.A.; Midgley, A.W.; Montenegro, R.; Oliveira, R.B.; Farinatti, P.T. Metabolic equivalent concept in apparently healthy men: a re-examination of the standard oxygen uptake value of 3.5 mL.kg–1min–1. Appl Physiol Nutr Metab. Vol. 38. Num. 11. p. 1115-9. 2013.

-Dempsey, P.C.; Larsen, R.L.; Dunstan, D.W.; Owen, N.; Kingwell, B.A. Sitting less and moving more: implications for hypertension. Hypertension. Vol. 72. Num. 5. p. 1037-46. 2018.

-Faff, J. Physical activity, physical fitness, and longevity. Biology of Sport. Vol. 21. Num. 1. p. 3-24. 2004.

-Feigenbaum, M.S.; Pollock, M.L. Prescription of resistance training for health and disease. Med Sci Sports Exerc. Vol. 31. Num.1. p. 38-45. 1999.

-Fleck, S. J.; Kraemer, W.J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 4ª edição. Porto Alegre. Artmed. 2017.

-Haskell, W.L.; Lee, I.M.; Pate, R.R.; Powell, K.E.; Blair, S.N.; Franklin, B.A. Physical activity and public health: updated recommendation for adults from the American College of Sports Medicine and the American Heart Association. Med Sci Sports Exerc. Vol. 39. Num. 8. p. 1423-34. 2007.

-IPAQ - Guidelines for data processing and analysis of the International Physical Activity Questionnaire - short and long forms. https://sites.google.com/site/theipaq/scoring-protocol 2005.

-Kraus, W.E.; Powell, K.E.; Haskell, W.L.; Janz, K.F.; Campbell, W.W.; Jakicic, J.M. Physical activity, all-cause and cardiovascular mortality, and cardiovascular disease. Med Sci Sports Exerc. Vol. 51. Num. 6. p. 1270-81. 2019.

-Kyu, V.F.; Bachman, L.T.; Alexander, L. T.; Mumford, J. E.; Afshin, A.; Estep, K. Physical activity and risk of breast cancer, colon cancer, diabetes, ischemic heart disease, and ischemic stroke events: systematic review and dose-response meta-analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. BMJ. Vol. 354. Num. 3857. p. 1-10. 2016.

-Lavie, C.J.; O’Keefe, J.H.; Sallis R.E. Exercise and the heart - the harm of too little and too much. Curr Sports Med Rep. Vol. 14. Num. 2. p. 104-9. 2015.

-Lee, D.C.; Pate R.R.; Lavie, C.J.; Sui, X.; Church, T.S.; Blair, S.N. Leisure-time running reduces all-cause and cardiovascular mortality risk. J Am Coll Cardiol. Vol. 64. Num. 5. p. 472-81. 2014.

-Lee, I.M.; Shiroma, E.J.; Lobelo, F.; Puska P.; Blair S.N.; Katzmarzyk, P.T. Effect of physical inactivity on major non-communicable diseases worldwide: an analysis of burden of disease and life expectancy. Lancet. Vol. 21. Num. 380(9838). p. 219-29. 2012.

-Lee, I-M.; Sesso, H.D.; Paffenbarger Jr, R.S. Physical activity and coronary heart disease risk in men: does the duration of exercise episodes predict risk? Circulation. Vol. 29. Num. 102. p. 981-86. 2000.

-Liu, Y.; Lee, D.; Li, Y.; Zhu, W.; Zhang, R.; Sui, X.; e colaboradores. Associations of resistance exercise with cardiovascular disease morbidity and mortality. Med Sci Sports Exerc. Vol. 51. Num. 3. p. 499-508. 2018.

-Löllgen, H.; Böckenhoff A.; Knapp, G. Physical Activity and All-cause Mortality: An Updated Meta-analysis with Different Intensity Categories. Int J Sports Med. Vol. 30. Num. 3. p. 213-24. 2009.

-McDougall, D.; Sale, D. The Physiology of Training for High Performance. Oxford University Press. 1 edition. 440 pages. 2014.

-Morris, J.N. Uses of epidemiology. Br Med J. Vol.13. Num. 4936. p. 395-401.1955.

-Morris, J.N.; Heady, J.A.; Raffle, P.A.B.; Roberts, C.G.; Parks, J.W. Coronary heart-disease and physical activity of work. Lancet. Vol. 265. Num. 6796. p.1053-1057. 1953.

-Morris, J.N.; Raffle, P.A.B. Coronary heart disease in transport workers. A progress report. Br J Ind Med. Vol. 11. Num. 4. p.260-264.1954.

-Paffenbarger, R.S.; Hyde, R.T.; Wing, A.L.; Hsieh. C.C. Physical activity, all-cause mortality, and longevity of college alumni. N Engl J Med. Vol. 6. Num. 314. p. 605-613. 1986.

-Pate, R.R.; Pratt, M.; Blair, S.N.; Haskell, W.L.; Macera, C.A.; Bouchard, C. Physical activity and public health. A recommendation from the Centers for Disease Control and Prevention and the American College of Sports Medicine. JAMA. Vol.1. Num. 273(5). p. 402-407. 1995.

-Perez, A.J. Treinamento Corporal Humano: Fundamentos para a prática de exercícios e de esportes. Editora Appris, 1ª ed. 321 páginas. 2018.

-Piercy, K. L.; Troiano, R. P.; Ballard, R. M.; Carlson, S.A.; Fulton, J.E.; Galuska, D. A. The physical activity guidelines for Americans. JAMA. Vol. 320. Num. 19. p. 2020-2028. 2018.

-Powell, K.E.; Paluch, A.E.; Blair. S.N. Physical activity for health: What kind? How much? How intense? On top of what? Annu Rev Public Health. Vol. 32. p. 349-65. 2011.

-Samitz, G.; Egger, M.; Zwahlen, M. Domains of physical activity and all-cause mortality: systematic review and dose-response meta-analysis of cohort studies. Int J Epidemiol. Vol. 40. Num. 5. p. 1382-400. 2011.

-Sattelmair, J.; Pertman, J.; Ding, E.L.; Kohl, H.W.; Haskell, W.; Lee, I-M. Dose-response between physical activity and risk of coronary heart disease: A meta-analysis. Circulation. Vol. 16. p. 789-795. 2011.

-Schnohr, P.; O'Keefe, J.H.; Marott, J.L.; Lange, P.; Jensen, G.B. Dose of jogging and long-term mortality: the Copenhagen City Heart Study. J Am Coll Cardiol. Vol. 10. Num. 65. p. 411-9. 2015.

-Sesso, H.D.; Paffenbarger Jr, R.S.; Lee, I-M. Physical Activity and Coronary Heart Disease in Men. The Harvard Alumni Health Study. Circulation. Vol. 29. Num. 102. p. 975-80. 2000.

-Stamatakis, E.; Johnson, N.A.; Powell, L.; Hamer, M.; Rangul, V.; Holtermann, A. Short and sporadic bouts in the 2018 US physical activity guidelines: is high intensity incidental physical activity the new HIIT? Br. J. Sports Med. Vol. 53. Num. 8. p. 1-3. 2019.

-Stensvold, D.; Viken, H.; Rognmo, Ø.; Skogvoll E.; Steinshamn, S.; Vatten, L.J. A randomised controlled study of the long-term effects of exercise training on mortality in elderly people: study protocol for the Generation 100 study. BMJ Open. Vol. 12. Num. 5(2). p. 1-9. 2015.

-Tanasescu, M.; Leitzmann, M.F.; Rimm, E.B.; Willett, W.C.; Stampfer, M. J.; Hu, F.B. Exercise type and intensity in relation to coronary heart disease in men. JAMA. Vol. 288. Num. 16. p. 1994-2000. 2002.

-Wang, Y.; Lee, D.; Brellenthin, A. G. Sui, X.; Church, T.S.; Lavie, C.J.; Blair, S.N. Association of muscular strength and incidence of type 2 diabetes. Mayo Clinic Proceedings. Vol. 94. Num. 1. p. 643-51. 2019.

-Wen, C.P.; Wu, X. Stressing harms of physical inactivity to promote exercise. Lancet. Vol. 21. Num. 380. p. 192-3. 2012.

-Wen, C.P.; Wai, J.P.; Tsai, M.K.; Chen; C.H. Minimal amount of exercise to prolong life: to walk, to run, or just mix it up? J Am Coll Cardiol. Vol. 5 Num. 64. p. 482-4. 2014.

-Wen, C.P.; Wai, J.P.; Tsai, M.K.; Yang, Y.C.; Cheng, T.Y.; Lee, M.C. Minimum amount of physical activity for reduced mortality and extended life expectancy: a prospective cohort study. Lancet. Vol. 378. Num. 9798. p. 1244-53. 2011.

-Yu, S.; Yarnell, J.W.; Sweetnam, P.M; Murray, L. What level of physical activity protects against premature cardiovascular death? The Caerphilly Study. Heart. Vol. 89. Num.5. p. 502-6. 2003.

Publicado
2021-02-26
Como Citar
Cabral, T. P. D., Caliman, L. C., Leopoldo, A. S., & Lunz, W. (2021). Nossas recomendações de ’dose-resposta’ de atividade fí­sica para proteção contra doenças crônicas e mortalidade estão corretas? . RBPFEX - Revista Brasileira De Prescrição E Fisiologia Do Exercício, 14(89), 175-195. Recuperado de https://www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/1995
Seção
Artigos Científicos - Revisão